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segunda-feira, 31 de março de 2014

Revolução da Mentira mergulhou Brasil em 21 anos de trevas


Há 50 anos, na madrugada de 31 de março, um golpe militar derrubava
o presidente João Goulart, mergulhando o País numa Ditadura Militar

Luís Alberto Alves

  A madrugada de 31 de março de 1964 marcou o início da Ditadura Militar que retirou do poder o presidente João Goulart (PTB), que havia sido eleito como vice na chapa de Jânio Quadros (PTN) e assumiu o governo quando Jânio renunciou em 1961. Foram 21 anos de escuridão. Pode se chamar Revolução da Mentira, pois só no dia 2 de abril que o Congresso Nacional declarou vago o cargo da presidência da República, assumindo temporariamente o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
 Parte da elite brasileira temia que o Brasil se transformasse numa nova Cuba, principalmente depois que o presidente João Goulart expôs os planos de reformas de base, visando reduzir as desigualdades sociais. Entre elas estavam as reformas bancárias, ampliando créditos aos produtores, eleitoral estendendo o direito de votar aos analfabetos e militares de baixas patentes, valorizar os professores e acabar com as cátedras vitalícias nas universidades e democratizar o uso da terra, por meio de reforma agrária.
 O rastilho de pólvora para explodir o Golpe de Estado em 1964 foi o temível (para a elite econômica) controle de remessa de dinheiro ao Exterior. Para colocar mais lenha na fogueira, João Goulart faz discurso inflamado no Rio de Janeiro, determinando a reforma agrária e nacionalização das refinarias estrangeiras de petróleo.
O último comício no Automóvel Club do Rio de Janeiro em 30 de março de 1964
 A classe média se uniu à elite conservadora, aumentando o time em que já estavam a maioria do empresariado, parte da igreja católica e organizaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, com quase meio milhão de manifestantes. Em todo o Brasil estouraram protestos contra a tentativa de reforma da Constituição. Os golpistas, em nome da democracia, bateram nas portas dos quartéis e os militares iniciaram a derrubada do presidente João Goulart na madrugada de 31 de março.
O marechal Castelo Branco foi o primeiro presidente do Regime Militar; morreu três meses após deixar o cargo
 Com a fuga dele para o Uruguai no dia 2 de abril, onde se exilou, pois procurou não resistir, para evitar que o País mergulhasse numa guerra civil. Mas caso fizesse teria colocado na cadeia os revoltosos (eram poucos) e a situação política não iria descambar para o terror. A classe média, a elite e os empresários que apoiaram a retirada do presidente do poder, perceberam em 9 de abril que mergulhariam numa ditadura, onde opositores morreriam sem direito a protestos.
                                                                 Cuide do seu jornal
 O dono de um dos veículos de comunicação mais antigos do Brasil, que abriu as páginas do seu jornal para denegrir Goulart e apoiar o Golpe Militar, percebeu que o caldo político subiria de temperatura e foi procurar o marechal Castelo Branco, empossado como presidente indiretamente com mandato até 24 de janeiro de 1967, e se decepcionou. Ao reclamar da edição do AI-1 (Ato Institucional nº 1, cuja redação ficou a cargo do deputado Ulysses Guimaraes) recebeu a seguinte resposta: “O senhor cuide do seu jornal que nós cuidaremos do Brasil”.
O segundo presidente, Costa e Silva, fechou o Congresso Nacional e aumentou a repressão

 A partir dai políticos e intelectuais, que apoiaram o Golpe, perceberam que os militares não estavam brincando. Castelo Branco, que havia deixando o governo há três meses, morreu num estranho acidente aéreo em 18 de julho de 1967, quando o avião bimotor em que viajava foi atingido por um caça da Força Aérea Brasileira (FAB), em Fortaleza (CE). Mesmo com boa visibilidade, a aeronave bateu no bimotor que levava o presidente, provocando sua morte, até hoje considerada atentado.
 Castelo Branco, que passou o bastão para o linha dura marechal Arthur da Costa e Silva, pretendia, segundo vários estudiosos, devolver o poder aos civis, assim que a crise política fosse debelada. Mas os militares aliados à extrema-direita, com argumento de manter a paz e a ordem pública, deixando os comunistas e a esquerda radical do Palácio do Planalto, bateram de frente com Castelo Branco.
 Costa e Silva, de 1967 a 1969, não brincou na presidência. Para decepção dos apoiadores da queda de João Goulart, ele acelerou a ditadura no País, eliminando o que restava de liberdades públicas e democráticas. Inclusive com aumento da repressão contra todos os movimentos, grupos e focos de oposição ao governo. O deputado Carlos Lacerda, crítico de Getúlio Vargas e depois de Goulart, que defendeu abertamente o Golpe Militar de 1964, chegou a ser preso num quartel do Exército e percebeu que deveria baixar o tom de suas críticas. Ou seja, a cobra que ajudou a criar, agora desejava picá-lo.
Passeata dos Cem Mil, em 1968, no Rio de Janeiro, organizada por estudantes
 Um dos focos de ataque de Costa e Silva era a Frente Ampla, composta de políticos influentes, contando com o ex-presidente João Goulart (PTB), exilado no Uruguai, outro ex-chefe do poder, Juscelino Kubitschek (PSD), Magalhães Pinto (fundador do extinto Banco Nacional), Adhemar de Barros e Lacerda. Como crianças inocentes tentando retirar o doce roubado pelo adulto, passaram a pressionar o governo reivindicando anistia (em 1967 foram suspensas todas as eleições diretas no Brasil), assembleia constituinte e eleições diretas para governador e presidente da República. Tiveram apoio de vários sindicatos.
Deputado Carlos Lacerda apoiou o Golpe Militar e depois foi perseguido pelo novo governo

                                                                Radicalização
 A resposta de Costa e Silva foi endurecer mais ainda. Qualquer manifestação nas ruas era reprimida com violência e diversas prisões. A escola pública, até então de boa qualidade (na época o ensino privado era reservado para alunos de competência sofrível), foi atingida com a retirada de disciplinas consideradas subversivas, como filosofia e sociologia. O raciocínio crítico passou a ser combatido nas instituições escolares. A regra era o aluno não pensar, mas decorar. Poucos anos depois seria implantado o 1º Grau (englobando o antigo curso primário e ginasial) e 2º Grau (no lugar do Colegial, atual Ensino Médio).
A violência era a resposta do Regime Militar a qualquer questionamento da sociedade
 Com o avanço dos protestos nas ruas (estudantes colocavam na época cem mil pessoas nas manifestações, a maioria com idade entre 16 e 20 anos), os militares radicais já circulavam livremente no governo Costa e Silva. No primeiro semestre de 1968 aconteceu o famoso caso Para-Sar (nome de uma unidade salvamento da Aeronáutica), denunciado pelo capitão-aviador Sérgio Miranda de Carvalho. Segundo ele, o brigadeiro João Paulo Burnier pretendia usar esse grupo de militares para diversos atentados. Um deles seria a explosão do gasômetro do Rio de Janeiro e jogar a culpa nos críticos e opositores do governo.
Brigadeiro Burnier quis explodir o gasômetro no Rio de Janeiro e jogar a
culpa nos opositores do governo; outro plano era matar vários intelectuais

Carvalho recusou e foi cassado ao denunciar as intenções de um brigadeiro psicopata. Burnier é acusado pela prisão e morte do militante do grupo de extrema-esquerda Stuart Angel Jones, em 1971, executado durante sessões de tortura num quartel da Aeronáutica, comandado por ele.  O projeto de Burnier era assassinar todos os intelectuais mais importantes do Brasil nas décadas de 1960 e 1970.
 Num governo radical, sua postura administrativa ajuda a jogar gasolina no fogo para queimar a democracia. Como pelo diálogo era impossível conversar com os militares na gestão Costa e Silva, apareceram vários grupos e organizações de esquerda. Alguns deles defendiam um projeto revolucionário socialista para o Brasil, pegando carona na experiência de Cuba e China. Pregavam a extinção do sistema capitalista no País.
Junta Militar provisória que impediu a posse, em 1969, do vice presidente Pedro Aleixo, após Costa e Silva ficar doente
 O PCB (Partido Comunista Brasileiro) defendia a caminho pacífico para implantação do socialismo, por meio de reformas estruturais e votos. Mas os radicais de esquerda defendiam a luta armada com a utopia de derrubar a ditadura militar e impor o socialismo depois, como fez Fidel Castro em Cuba após retirar Fulgêncio Batista do governo. Grupos de guerrilheiros passaram a sequestrar, assaltar bancos e praticar atentados, em resposta à repressão imposta pelo governo Costa e Silva.
                                                                Atos e protestos
 A atuação dos movimentos oposicionistas chegou ao auge no ano de 1968. A Frente Ampla promovia comícios, passeatas e reuniões e havia ampliado suas bases de apoio conseguindo adesão até mesmo de setores das Forças Armadas. Por outro lado, o movimento estudantil começou a se reorganizar.
Estudante Alexandre Vannuchi Leme

 Além da exigência de retorno à democracia, os estudantes passaram a se opor à política educacional do governo, que havia realizado um acordo de cooperação com o governo norte-americano, conhecido como o acordo MEC-Usaid (siglas que representam o Ministério da Educação e Cultura brasileiro em associação com a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional). Era o projeto para reduzir ainda mais qualidade do ensino público, principalmente nas faculdades.
 Os estudantes promoveram inúmeros atos e protestos públicos contra o que chamavam de interferência dos Estados Unidos no sistema educacional brasileiro. Em 26 de junho de 1968, a UNE (União Nacional dos Estudantes) promove a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, movimento que representou o auge da atuação do movimento estudantil.
 Foi nesta época que o presidente Costa e Silva resolveu mostrar que o Brasil estava num regime ditatorial. Fechou o Congresso Nacional e colocou em prática o AI-5 (Ato Institucional nº 5, o famoso AI – 5). Este instrumento jurídico suspendeu todas as liberdades democráticas e direitos constitucionais, permitindo que a polícia fizesse investigações, perseguições e prisões de qualquer pessoa sem necessidade mandado judicial.
                                                                Aqui é o inferno
 A suspensão de todas as garantias constitucionais e individuais aos cidadãos brasileiros acarretou graves abusos e violações dos direitos humanos por parte dos órgãos oficiais encarregados da segurança e repressão política. Logo surgiram notícias de torturas de presos políticos. Numa Vila Militar, um torturador escreveu em uma placa o atestado de óbito da democracia brasileira: “Dali pra dentro Deus não entra. Se entrar, a gente dependura no pau-de-arara (posição em que o preso fica com os braços e pernas entrelaçados num pedaço de pau ou ferro e recebe choques elétricos e golpes)”.
Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos responsáveis pelas torturas no DOI/Codi em São Paulo na década de 70
 Com o afastamento de Costa e Silva por causa de um derrame em 1969, o seu vice, Pedro Aleixo, foi impedido de assumir o comando do País. Entra em ação a Junta Militar provisória composta por almirante Augusto Rademaker, general Aurélio de Lyra e brigadeiro Márcio de Souza e Mello.  Em 30 de outubro daquele ano pega o bastão o general Emílio Garrastazu Médici. Nomeado comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro em 1961, durante o governo Jânio Quadros (PTN), do qual João Goulart (PTB) era vice, em 1964 apoiou o Golpe Militar.
Pau de arara era tortura preferida pelos psicopatas do Regime Militar; vários presos morriam após os interrogatórios
 De 1969 a 1974, o Regime Ditatorial que tomou o lugar de Goulart, encheu as mãos de sangue. Sob forte censura, por causa do AI-5, jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão tinham o noticiário fiscalizados por agentes da Polícia Federal. Novelas e músicas só chegavam ao público após pente fino da polícia, para evitar críticas ao governo ou mesmo enviar recados sobre a verdadeira situação de asfixia política no País.
 Os torturadores, tanto nas Forças Armadas, quanto na Polícia Civil, receberam carta branca para bater e até matar suspeitos de criticar o governo. Em alguns quarteis o bando de psicopatas, servidor público federal, não sentiam vergonha de colocar placas para mostrar qual era o rosto verdadeiro do regime político brasileiro naquela época: “Aqui não é o Exército, nem Marinha, nem Aeronáutica. Aqui é o inferno”. Outras diziam: “Eu esqueço o meu coração quando saio de casa para “trabalhar”. Ou mesmo para mostrar o terror ali existente informavam: “Aqui é o inferno”.
A morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho, em 1976, provocou a queda do comandante
do II Exército em São Paulo, na queda de braço da linha dura com o presidente Geisel

 A guerrilha que se instalou na região Norte do Brasil, no Sul do Pará, na cidade de Araguaia, resistiu de 1970 a 1974. As Forças Armadas enviaram tropas em grade número e mataram todos os guerrilheiros que tiveram a utopia de criar um núcleo revolucionário naquela parte do País. Quem não perdeu a vida em tiroteio e depois teve o corpo incinerado ou jogado no meio da floresta, sucumbiu às fortes torturas. Passados 40 anos, muitos cadáveres continuam desaparecidos, sem que o Exército informe o paradeiro dos guerrilheiros executados.
                                                               Milagre econômico
 A elevada inflação da época do governo João Goulart (PTB), na primeira metade da década de 1960, cedeu lugar ao gigantesco crescimento econômico do Brasil entre 1970 até o outubro de 1973. O número de desempregados caiu rapidamente. Também não existiam manifestações grevistas, pois a maioria dos sindicalistas estava exilada, morta ou presa. O aumento da produção industrial e do PIB (Produto Interno Bruto) ajudou a atrair ao País diversos investidores. O Brasil era a potência econômica do mundo.
Gilberto Gil ficou exilado de 1969 a 1972 na Europa

 Porém no submundo político, nada se parecia com essa imponência. A classe artística vivia sob perseguição da forte censura. Muitos professores universitários estavam no exílio, como Paulo Freire, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso entre outros. Parte da liderança estudantil, ou foi parar atrás das grades ou perdia vida nas mãos de torturadores como ocorreu com o jovem Alexandre Vannucchi Leme, 22 anos, em 1973, que cursava Geologia na USP (Universidade de São Paulo) e morreu durante interrogatório no famigerado DOI/Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna).
 Militante do grupo clandestino Ação Libertadora Nacional (ALN) foi preso por agentes do II Exército (região do Ibirapuera/SP), sofreu tortura durante dois dias até morrer. Para esconder o assassinato (que virou prática com outros suspeitos), o Exército emitiu nota dizendo que Leme havia se suicidado. Depois mudaram a versão, de que ele na fuga do DOI/Codi acabou atropelado. A família descobriu que Melo estava enterrado como indigente no cemitério de Perus, Zona Norte de SP. O corpo estava coberto de cal para que as marcas de tortura não fossem percebidas.
João Figueiredo, último presidente
da Ditadura Militar no Brasil

  É nesta época que o milagre econômico desaparece, após o estouro da guerra entre Egito e Israel, em outubro de 1973. Para reprimir o avanço das tropas israelitas, países árabes produtores de petróleo aumentam o preço dos barris. Por alguns dias a economia industrial começa a entrar em colapso. Israel é obrigado a recuar, mas o valor do petróleo não cai. Com o Brasil importando 80% desse material, a bonança vai embora, a inflação começa a aumentar e o governo Médici recebe as primeiras críticas.
 Parte da igreja católica, comandada pelo arcebispo de SP, dom Paulo Evaristo Arns, passa denunciar publicamente a morte de opositores da Ditadura, inclusive participando de uma missa em memória de Alexandre Vannuchi Leme na catedral da Sé em 27 de março de 1973. É a primeira grande manifestação pública de oposição ao Regime desde 1968. Após a prisão de 40 estudantes da USP, o movimento estudantil ressurge. Num show de Gilberto Gil, que ficou exilado na Europa de 1969 a 1972, na Escola Politécnica, ele denuncia que o Exército continua prendendo estudantes. A apresentação deveria ser de 30 minutos durou três horas. A USP volta a se mobilizar.
                                                              Censura prévia
 O sucessor de Médici, o general Ernesto Geisel, começou a sentir que a tampa da panela iria explodir. Mesmo com a morte, sob tortura, de vários opositores, inclusive sindicalistas e estudantes, não era mais possível controlar a situação. Com o Congresso Nacional funcionando, o partido da situação, Arena (Aliança Renovadora Nacional), que controlava o Senado e Câmara Federal, não conseguia mais impedir a simpatia pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), oposição consentida pela Ditadura na década de 1970.
Delegado Sérgio Fleury; carniceiro do Regime Militar, usado para prender e torturar vários presos políticos
 Um dos mentores do Regime que derrubou João Goulart, o general Goubery do Couto e Silva, sugeriu a implantação de uma abertura lenta, gradual e segura. O projeto previa adoção de um conjunto de medidas políticas liberalizantes, sob controle do Executivo Federal. Neste pacote estava incluso suspensão parcial da censura prévia aos meios de comunicação e revogação gradativa ainda presentes no conjunto de leis em vigor, que cerceavam as liberdades públicas e democráticas e os direitos individuais e constitucionais.

 Geisel percebeu que esse era o caminho para que as Forças Armadas saíssem do poder. Aliás, até hoje quando se fala no Regime que tomou o governo em 1964, a população não cita o nome dos governantes, mas enfatiza que os “militares mandavam no País”. Herdaram tudo que de ruim aconteceu neste período, inclusive a morte de opositores políticos. De 1975 em diante, a linha dura do Exército começou um braço de ferro com o presidente Ernesto Geisel, aumentando a repressão e o controle policial sobre todos os setores da sociedade.

 Em outubro de 1975 o jornalista da TV Cultura, de São Paulo, Vladimir Herzog vai depor de manhã no DOI/Codi, sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro), no início da tarde estava morto. O governo divulga uma foto informando que ele se enforcou com o cinto do macacão que vestia. Os torturadores, na pressa de encobrir mais um homicídio, o fotografaram sentado. A farsa acabou descoberta, resultando em grande manifestação. Por ser judeu, o rabino Henry Sobel foi ao IML (Instituto Médico Legal) para realizar o ritual de preparação do sepultamento. As marcas no corpo de Herzog reforçou a suspeita de que ele tinha sido assassinado.

Desaparecidos na guerrilha do Araguaia

  Dias depois um ato ecumênico na catedral da Sé atrai cerca de 8 mil pessoas.  Três meses depois, em janeiro de 1976, o metalúrgico Manoel Fiel Filho morre em circunstâncias idênticas no mesmo DOI/Codi. O presidente Geisel exonera o comandante do II Exército, Ednardo D´Ávila, e começa bater de frente com os seus colegas linha dura. Em seu lugar entra o general Dilermando Gomes Monteiro. Ele e o delegado carniceiro Sérgio Fleury seriam responsáveis pela chacina no bairro da Lapa, Zona Oeste de SP, em dezembro de 1976, com a morte de vários membros do PC do B, onde o comitê do partido estava reunido.
                                                                Anistia
 Até o final do mandato de Geisel houve queda de braço com a linha dura, com grupos de militares tentando aumentar a repressão em oposição ao projeto de distensão lenta e gradual, calculada por Golbery do Couto e Silva. O sucesso dessa empreitada dependia de o governo colocar uma coleira nos cachorros bravos dos órgãos de repressão. Na escolha do próximo candidato ao governo do País, sucessor de Geisel, o general e ministro do Exército, Sylvio Frota, tenta melar o processo sucessório. Ele prega o endurecimento do Regime. É derrotado e demitido. Para evitar crises políticas, são feitas concessões com o governo concordando em esclarecer o desaparecimento e morte de presos políticos.
Presidente Geisel demite o linha dura Sylvio Frota

 A crise econômica é visível. A elite empresarial que havia apoiado a Ditadura desde 1964 percebe que virou um caos a política econômica. Empresários passam a cobrar o fim da aplicação de dinheiro nas estatais. O aumento do custo de vida e salários baixos resultam em greves na região do ABC paulista em 1978. Diversos setores da população exigem o fim da Ditadura Militar. Nem com políticos biônicos, o governo consegue aumentar sua bancada no Congresso Nacional.

 É eleito indiretamente o general João Baptista Figueiredo (PDS atual PP), chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações).  Sua bandeira de luta era a abertura política e redemocratização do País. Deixou o poder em 1985, com a eleição de Tancredo Neves e o seu vice, José Sarney.  Durante a gestão Figueiredo, aumentou o desgaste do Regime Militar. Mesmo após a anistia, decretada em 1979, a linha dura das Forças Armadas tentaram barrar o processo de redemocratização. O AI-5 foi revogado e maior parte das leis de exceção. Porém ficou de fora qualquer tentativa de punição legal às Forças Armadas. Ou seja, militares envolvidos em crimes de tortura, mesmo com a morte da vítima, ficou de qualquer tipo de processo na Justiça.

 No começo da década de 1980 bancas de jornal passaram a ser alvos de explosões, principalmente as que vendiam jornais alternativos, visando desestabilizar o governo e provocar medo na sociedade. Figueiredo conteve o radicalismo de sua turma. Para evitar derrota maior nas primeiras eleições diretas para governador, deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores, que não ocorriam desde 1967, em 1982, Arena e MDB foram extintos, surgindo o governista PDS (Partido Democrático Social) e os oposicionistas PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista), liderado por Leonel Brizola, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, e Partido dos Trabalhadores (PT), de proposta socialista, fundado por Luiz Inácio Lula da Silva.

 O último suspiro dos militares radicais ocorreu na noite de 30 de abril de 1981 no centro de exposição Riocentro, Rio de Janeiro. Dois militares do DOI/Codi foram ao local e preparavam a explosão de uma bomba durante o show de comemoração ao Dia do Trabalho. Felizmente o artefato estourou no carro onde estavam os dois psicopatas, o sargento Guilherme Rosário morreu no local e seu parceiro, o capitão Wilson Chaves Machado ficou ferido, mas sobreviveu.
Atentado no Riocentro, último suspiro dos militares descontentes com a redemocratização do país

 Segundo se apurou na época, os dois militares eram dissidentes do DOI/Codi, que recusavam o processo de redemocratização. O plano do atentado era criar condições de um provável endurecimento da Ditadura Militar e fazer outra caça aos opositores políticos. Caso tivesse ocorrido a explosão várias pessoas teriam morrido pisoteadas. Em fevereiro de 2014, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu à Justiça que cobre do Exército informações sobre as fichas dos oficiais investigados. Nenhuma informação foi enviada sobre a solicitação da Justiça. A eleição indireta de Tancredo Neves no começo de 1985 selou o fim do Regime Militar no Brasil. Quatro anos depois Fernando Collor de Mello pelo voto direito chegou à presidência da República enfrentando o fundador do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
                                                                                       




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